quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Albert Camus, Vida e Obra

“Penso agora em flores, sorrisos, desejo de mulher, e compreendo que todo o meu horror de morrer está contido em meu ciúme de vida. Sinto ciúme daqueles que virão e para os quais as flores e o desejo de mulher terão todo o seu sentido de carne e de sangue. Sou invejoso porque amo demais a vida para não ser egoísta... Quero suportar minha lucidez até o fim e contemplar minha morte com toda a exuberância de meu ciúme e de meu horror” Albert Camus (1913-1960)

Em seu esforço para encontrar um sentido para a vida humana sem recorrer ao dogmatismo nem a falsas esperanças, Albert Camus foi muitas vezes mal compreendido mas influenciou decisivamente sua geração intelectual e a seguinte. Albert Camus nasceu em Mondovi, Argélia, em 7 de novembro de 1913. Com a morte do pai na batalha do Marne, durante a primeira guerra mundial, passou por sérias dificuldades econômicas junto com a família. Conseguiu, no entanto, estudar filosofia na Universidade de Argel e exerceu várias profissões até se formar.

Tuberculoso, não pôde trabalhar como professor e resolveu abraçar a carreira literária, que iniciou como jornalista e fundador do Théâtre du Travail, com o objetivo de levar a arte ao povo. As agruras desses anos se refletem em suas primeiras obras, as coletâneas de ensaios L'Envers et l'endroit (1937; O avesso e o direito) e Noces (1938; Bodas). Depois de romper com o Partido Comunista, após vários anos de militância, Camus mudou-se em 1940 para Paris, que teve que abandonar por causa da invasão alemã. Pouco depois regressou à França e aderiu à resistência, como diretor da revista Combat. Em plena guerra mundial publicou uma série de obras que tornariam célebre seu nome: o romance L'Étranger (1942; O estrangeiro), que descreve a atmos­fera sem esperança característica dessa época em que seu prota­gonista, Meursault, é um homem indiferente a todas as normas sociais, impermeável a todos os valores morais. Condenado por matar dois árabes numa praia, tudo que declara como justificati­va de seu ato injustificável é que o fez "por causa do sol". Dizer mais do que isso, tentar defender-se, significaria acatar as regras de um jogo que ele recusa.

Já o ensaio Le Mythe de Sisyphe (1942; O mito de Sísifo), que poderia ter como subtítulo a seguinte pergunta: “a vida vale a pena ser vívida?”, Trata do absurdo que consiste na incompatibili­dade entre um anseio humano de explicação para o mundo e o mistério essencial desse mundo inexplicável, entre a consciência da morte e o desejo de uma impossível eternidade, entre o sonho de felicidade e a existência do sofrimento, entre o amor e a sepa­ração dos amantes. Constatado o absurdo, resta escolher a atitu­de a tomar, para Camus, trata-se de aceitá-lo e de conviver com ele. É o que faz Sísifo, o mítico personagem condenado pelos deu­ses a rolar eternamente uma pedra encosta acima de uma monta­nha. Sísifo aceita o absurdo e tenta agir dentro dos limites que isso lhe impõe. E, paradoxalmente, ao tomar consciência desses limites, ele consegue ser mais livre. Em todas suas obras, até então, Camus apresentava uma visão desesperançada e niilista da condição humana. Era difícil, no entanto, conciliar a postura solidária e progressista do combatente da resistência com tal negativismo. Por isso, em suas obras posteriores Camus tendeu a elaborar um pensamento em que o niilismo constituísse "um ponto de partida" para uma sociedade mais livre e humana. Exemplo disso foi o romance La Peste (1947), narrativa simbólica da luta de um médico contra uma epidemia em Oran. Por trás dessa trama simples se percebia, no entanto, a sombra do nazismo e da ocupação alemã, bem como um apelo à dignidade humana. Temática muito semelhante aparece na obra L'État de siège (1948; O estado de sítio). A postura ideológica de Camus aparece com nitidez em L'Homme révolté (1951; O homem revoltado), longo ensaio de caráter metafísico no qual ele analisou a ideologia revolucionária e escreveu palavras reveladoras: "O rebelde rechaça, portanto, a divindade, para compartilhar as lutas e o destino comum." O ensaio, no entanto, não foi bem recebido pelos círculos esquerdistas, que viam nele um pensamento demasiadamente individualista e retórico. Durante a década de 1950, Camus enfrentou um conflito entre suas idéias progressistas e a explosão da revolução na Argélia, diante da qual, fundamentalmente por razões sentimentais, se colocou do lado da França. Tais contradições internas resultaram em duas obras importantes, o romance La Chute(1956; A queda) e a coletânea de contos, vários deles situados na Argélia, L'Exil et le royaume (1957; O exílio e o reino).
A Queda ironiza a convicção de que a humanidade é má e combate a idéia, defendida pelo protagonista, de que o sofrimen­to humano resulta de uma grande culpa universal. A obra devia integrar os contos de O Exílio e o Reino, porém acabou ganhando dimensão de romance. O mundo que surge em seus trabalhos na década de 1950 já não é tão absurdo como o de suas primeiras obras, um inferno caótico e irreal, fruto talvez da sensação de isolamento do autor. Em 1957, Camus recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, pelo “conjunto de uma obra que põe em destaque os problemas que se colocam em nossos dias à consciência dos homens”. Na ocasião, proferiu um discurso analisando o papel do artista, que não deve apenas distrair o público, mas "comover o maior núme­ro possível de homens, oferecendo-lhes uma imagem privilegiada dos sofrimentos e das alegrias comuns".
Três anos depois, 04 de janeiro de 1960, cheio de planos e de sonhos e preparando um novo romance, Albert Camus morre num acidente de automóvel, na estrada que liga Sens a Paris. Em seu bol­so encontrou-se uma passagem de trem para o mesmo percurso. Sua obra, constitui uma das grandes realizações da literatura francesa e foi a expressão de um homem que sempre agiu com honestidade em sua busca de justiça.Antologia "Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam."

"O que é, com efeito, o homem absurdo? Aquele que, sem o negar, nada faz pelo eterno."

"A verdadeira generosidade em relação ao futuro consiste em dar tudo no presente."

"Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida."

"Não há amor generoso senão aquele que se sabe ao mesmo tempo passageiro e singular."

"Na luz, o mundo continua a ser nosso primeiro e último amor." “Se amar bastasse, as coisas seriam simples. Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo.”

“Mas do amor só conheço a mistura de desejo, ternura e entendimento que me liga a determinado ser.”

“Por que seria preciso amar raramente para amar muito.”

“Há gente que é feita para viver e gente que é feita para amar.”

“Só chamamos de amor o que nos une a certos seres por influência de um ponto de vista coletivo gerado nos livros e nas lendas. Mas do amor só conheço a mistura de desejo, ternura e entendimento que me liga a determinado ser.”

“O homem absurdo multiplica o que não pode unificar.”

“Para um homem consciente, a velhice e o que esta pressagia não é nenhuma surpresa. Ele é consciente dela na medida em que não oculta de si mesmo o seu horror. Em Atenas havia um templo consagrado à velhice, aonde levavam as crianças.”

“Amar e possuir, conquistar e esgotar, eis sua maneira de conhecer.”

Um comentário:

  1. "“Kafka desperta piedade e terror, Joyce admiração, Proust e Gide respeito, mas nenhum escritor moderno que eu me lembre, exceto Camus, despertou amor"

    Bravo Victor! Je voudrais bien que vous pourriez l'aimer autant que moi!

    Camus é um lindo e eu realmente estou explodindo de alegria por ter visto tanta coisa boa postada aqui (você nem tem ideia). Nunca presenciei tanto amor pela vida, tanta garra e tanta clareza em uma só pessoa.

    Merci pour cette joie.

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