domingo, 12 de junho de 2011

Impressões - Édouard Manet (1832-1883)


La musique aux Tuileries 1862 - National Gallery, Londres

Na vida caótica que levamos, escutar torna-se quase impossível. Ao ritmo frenético das informações as falas em forma de opiniões vazias ensurdecem a todos nós. Mas a própria fala escuta e varia em busca do silêncio. Entre o ouvir e o falar há o ver; é preciso dar tempo ao olhar. Essa pequena fala é um convite ao olhar e a uma possível fala no silêncio de cada um.


Ver significa criar sentido, abrir os olhos é também abrir um mundo novo, cheio de possibilidades e perigo. Manet sempre preocupou-se em pintar o homem contemporâneo – dos frequentadores do café aos trapaceiros – o que, por si só, distancia-o da busca por um realismo esboçado nos retratos e espaços confinados de uma tradição e lança-o frente ao natural, aos espaços abertos e lugares não explorados da França de sua época. Assim, em suas obras, não só os espaços são deslocados como as pessoas que o habitam mostram-se como espontâneas e abertas a uma pintura que não ignora o movimento. Em suas obras, são apresentados tanto grandes figuras históricas e sociais (L'Exécution de Maximilien 1868) quanto personagens cotidianas (Le Buveur d'absinthe 1858 / 1859) que, aparentemente para época, não teriam importância para a pintura.

Em 1863, devido as inovações e questionamentos propostos, grande parte dos novos pintores foram recusados no Salon oficial francês de arte, entre eles as obras de Manet por apresentarem riscos as técnicas e temas usuais. Paralelamente ao Salon foi organizado o então “Salon des refusés”, que seria justamente, a exposição daqueles que foram recusados pelo grande círculo da arte refinada. Mas Manet não adere ao grupo composto por pintores como Monet, Renoir e Bazille que viriam a constituir, a partir da discussão suscitada, o grupo dos “impressionistas”. Até escreve uma carta à comissão do Salon questionando os métodos de avaliação das obras, mas abre uma exposição individual aonde o quadro “La musique aux Tuileries” (acima) é exposto causando grande polêmica e apresentando o autor como uma das vozes daquilo que se desenhava como o impressionismo (l'une des voies de l'Impressionnisme).

Vejamos o quadro... experimentemos!

Tentem contar as pessoas que estão no quadro... juro que tentei, não dá. Mas no meio de tanta gente um a figura se destaca e chama atenção. É aquele sujeito de cartola... ãhm... de bigode... ãhm... (não está ajudando)... : do lado direito do quadro acima das cadeiras, entre uma mulher de chapéu bege e um homem de pé com calças claras, um sujeito sentado nos olha de lado, desconfiado; é o escritor e amigo de Manet, Charles Baudelaire. Isso mesmo, no meio de uma multidão é um amigo – amigo esse que dizia ser Manet “o pintor da época moderna” - que aparece. É o amigo que não está rígido e forçosamente em pose para um retrato, mas ao ar livre, observando as pessoas, na vida e em seus acontecimentos.

No mundo francês a literatura e a pintura comunicam-se muito bem. Enquanto uma fala a outra escuta, e assim, as duas fazem ver. Ver o que? - a nós mesmos! Manet quando jovem empreendeu além de uma viagem para a Espanha, cartas sobre sua estadia no Brasil aonde diz ter encontrado elementos exóticos que enriqueceram sua obra. É também uma provocação ao nosso silêncio perguntar quais impressões a França e sua riqueza cultural podem nos fazer ouvir, ver e falar.


link para os quadros de Monet em português e francês:

http://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_tableaux_d%27%C3%89douard_Manet

http://www.impressionniste.net/manet.htm

link para as cartas de Monet em francês:

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k56528006/f70.image.langPT


2 comentários:

  1. Voilà, Bruno!
    Je vous remercie pela sua participação, já que no fim de semana a turma não escreve aqui: eles descansam!
    Admito que tive que me esforçar um pouco para reconhecer a figura de Baudelaire no meio de tantas pessoas,tive inclusive que baixar a imagem e seguir passo a passo suas recomendações para poder encontrá-lo. Bom ler alguém comentando do MANET, posto que existe o MONET (que é muito mais conhecido e aclamado).
    Merci beaucoup!

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  2. Nossa fantástico,
    sou um pouco suspeita pra falar de arte e tudo o que envolve a expressão da arte que em seu sentido é a própria representação da vida mas como dizia Fernando Pessoa: a vida prejudica a expressão da vida. Arte é sentir, se descobrir e acima de tudo se construir.Acho que sou frustrada por não me considerar uma artista, só interpreto as vezes quando tenho tempo e oportunidade mas é na arte que reconstruo.Nas transgressões e continuidades que a própria sociedade impõe.
    L'art est passionnante o/
    (Juany Nunes)

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